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quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Com aumento, Supremo e Congresso dão uma 'prensa' no bozo

Reajuste de ministros é bomba orçamentária em momento de corte de despesas 

@brunoboghossian


O Supremo e o Congresso deram uma "prensa" no governo Jair Bolsonaro. Em menos de uma hora de discussão, senadores aprovaram o aumento dos salários dos ministros do tribunal e penduraram uma conta de R$ 1,5 bilhão por ano para a União a partir de 2019.

A bomba orçamentária foi embrulhada para presente horas depois que o presidente eleito criticou a medida. Na manhã desta quarta (7), Bolsonaro havia dito que não era o momento de aprovar novos gastos. "O Judiciário, em um gesto de grandeza, com toda a certeza não fará tanta pressão assim por esse aumento de despesa", declarou.

Cenas explícitas da política provaram o contrário. O presidente do STF atuou pessoalmente na articulação. Dias Toffoli ligou para senadores e reforçou o compromisso de derrubar o auxílio-moradia em troca do aumento —embora haja razões de sobra para acabar com o privilégio, sem qualquer recompensa.

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB), fez uma votação a jato. Na véspera, ele sorrira com desdém ao ouvir que o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, sugeria uma "prensa" no Congresso para aprovar medidas de seu interesse.

Parlamentares usaram a desculpa da harmonia entre os Poderes para justificar o presente. Renan Calheiros (MDB), que no passado travou o projeto que dava aumento aos ministros do tribunal, decidiu votar a favor da proposta. "Vou ajudar a não trincar as relações", discursou.

Além do reajuste dos salários para R$ 39,3 mil no STF, a medida tem efeito cascata no funcionalismo público e no restante do Judiciário. Os estados ficarão com uma conta extra de R$ 2,6 bilhões por ano. O projeto ainda precisa da assinatura de Michel Temer, mas o presidente participou da costura do acordo.

Ao justificar sua oposição ao tema, Bolsonaro lembrou a crise econômica. "Estamos numa fase de ou todo mundo tem ou ninguém tem", disse. Em seu segundo dia em Brasília como presidente eleito, ele viu uma matemática diferente em prática.

Bruno Boghossian
Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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