Almanaqueiras: ou não queiras.

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segunda-feira, 7 de maio de 2018

“Muito menu para pouca cozinha.”

O custo da diplomacia dos comissários 

Elio Gaspari 


Recursos de seguro-desemprego cobriram calote da Venezuela e de Moçambique

Os governos da Venezuela e de Moçambique deram um calote de R$ 1,2 bilhão em empréstimos do BNDES e do banco Credit Suisse, avalizados pelo Fundo de Garantia à Exportação. Eram parte da diplomacia dos comissários e das empreiteiras.

O espeto foi coberto com recursos de seguro-desemprego. A doutora Dilma Rousseff já havia perdoado US$ 1,5 bilhão em dívidas de cinco países africanos, e pode-se esperar que os “negócios estratégicos” tragam novos calotes.

Assim como a diplomacia dos comissários parecia não ter custo, houve um caso em que uma iniciativa foi condenada pelo moralismo da ocasião quando, na verdade, foi um lance de prestígio e também um bom negócio.

Em 1964 a ditadura cassou o embaixador Hugo Gouthier, amigo e parceiro de JK, um cavalheiro da elite carioca. Seu maior crime teria sido a compra, em 1959, do palácio Pamphili, na praça Navona, em Roma. Uma verdadeira joia setecentista, com 7.000 m² em cinco pisos e três pátios.

A Viúva gastou US$ 6 milhões em dinheiro de hoje no prédio e na sua reforma.

Hoje, o palácio não tem preço e vale mais que os US$ 325 milhões do calote da Venezuela e Moçambique. Na sua vizinhança, um apartamento de fundos, com dois quartos (86 m²), está anunciado por US$ 720 mil.

SEM JATINHO

Mesmo que venha a ser candidato a presidente, Joaquim Barbosa persistirá no hábito de não entrar em aviões particulares.

Quem entra nesses aviões sabe o risco que corre, pois às vezes é impossível saber quem paga pelo brinquedo.

DODGE X CNMP

Vão mal as relações da procuradora-geral Raquel Dodge com o Conselho Nacional do Ministério Público. Pelo jeito, vão piorar.

No centro da encrenca está a decisão de Dodge de ir adiante na investigação da porta giratória do procurador Marcello Miller, que operava no MPF e no escritório de advocacia que defendia os interesses dos irmãos Batista, da JBS.

Miller admitiu que fez “uma lambança”, mas foi uma lambança muito bem remunerada. Seu contrato com os advogados dos Batista fixava em R$ 1,4 milhão seus vencimentos anuais.

A MALETA

O presidente dos Estados Unidos tem sempre por perto um oficial que carrega uma maleta chamada de “Futebol”. Nela estão os equipamentos de comunicação que podem ordenar um ataque nuclear.

Quando sai à rua, Michel Temer é acompanhado por um cidadão que carrega o que parece ser uma pasta.

Trata-se de um painel dobrável que, uma vez aberto, protege o doutor contra ataques de tomates, ovos e coisas do gênero.

MEIRELLES ALVO

Lançando-se como candidato à Presidência da República, o doutor Henrique Meirelles deixou o Ministério da Fazenda e livrou-se da obrigação de explicar os maus números produzidos por sua economia recuperada.

Ao assumir, há dois anos, o doutor e a torcida do papelório acreditavam que ele cavalgaria uma recuperação econômica.

DOLEIROS-BOMBA

É impossível calcular o tamanho do estrago que será produzido pela Operação Câmbio, Desligo. Ela prendeu preventivamente a nata dos doleiros nacionais, com um histórico de operações que remonta ao século passado.

No lote estão os irmãos gêmeos Roberto e Marcelo Rzezinski, figuras do círculo carioca de Aécio Neves.

Eram operadores mais cacifados que os irmãos Renato e Marcelo Chebar, os doleiros que colaboraram com as investigações e ajudaram a fritar Sérgio Cabral. Os Chebar tinham apenas intimidade financeira com o “gestor” do Rio.

CENA DO RIO

A PM do estado do Rio tem 400 coronéis que se aposentaram entre os 42 e 53 anos de idade. Eles ganham entre R$ 25 mil e R$ 30 mil.

Até aí, essa é uma estatística de um estado rico e eficiente, digna da Califórnia.

Entretanto, os coronéis na ativa são apenas 100.

Está tudo explicado.

LULA ÁRBITRO

Com o bate-cabeça de Gleisi Hoffmann e Jaques Wagner, Lula recuperou uma de suas funções favoritas, a de árbitro de última instância nas divergências petistas.

Hoffmann defende a ortodoxia da candidatura de Lula, e Wagner defende uma política de conformismo, caso ele não possa ser candidato. Nesse caso, o PT poderia aceitar a vice de Ciro Gomes.

O pessoal do “Lula ou Nada” não está cometendo um erro. São pessoas que verdadeiramente preferem o “Nada”.

MARQUETAGEM

De um malvado ao saber que o governo prepara uma ofensiva publicitária para comemorar seu segundo aniversário:

“Muito menu para pouca cozinha.”

Elio Gaspari
Jornalista, autor de 5 volumes sobre a história do regime militar, entre eles 'A Ditadura Encurralada'

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