Almanaqueiras: ou não queiras.

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quinta-feira, 17 de maio de 2018

Marina Silva se põe além do compreensível.

Votos e vontades 

Janio de Freitas 



As eleições correm em dois territórios, o dos políticos e jornalistas e o da opinião pública

São dois territórios muito diferentes. As eleições correm em ambos. Um, o dos políticos e jornalistas, no qual, de uma parte, desenvolvem-se os entendimentos, as dissensões, as ilusões e a traição; e de outra parte disseminam-se notícias, muita especulação pobre e rica boataria.

O segundo território é a chamada opinião pública, ora um joguete (des)orientado por jornais, TV e agora internet, ora conseguindo emergir e canalizar propensões próprias.

Embora, a mais de quatro meses e meio da votação, os ainda pré-candidatos sejam acusados de não exporem planos para a Previdência, a movimentação entre políticos e partidos é a mais normal possível, para esta altura do processo eleitoral. Com uma exceção, que impressiona e não se explica.

Em inferioridade, nas sondagens sem o nome de Lula, apenas para Bolsonaro, Marina Silva permanece apática diante da competição por acordos, por tempo de propaganda gratuita, por projeção de candidata.

Mesmo o eleitorado, pois o seu eleitorado parece incapaz de interessá-la. Se ao menos suas ideias e intenções governamentais fossem mais conhecidas, poderia estar esquentando os motores. É o inverso, porém.

Não se sabe o que Marina pensa sobre qualquer uma das preocupações atuais. Marina Silva se põe além do compreensível.

Bolsonaro é aquilo mesmo que se esperaria. As áreas em que recebeu ou pode encontrar apoio são de fácil identificação, e dele têm recebido as atenções convenientes.

Mas uma incógnita o persegue: o seu fôlego é desconhecido. E até agora não lhe apareceram possibilidades de acertos interpartidários que representem mais tempo de propaganda gratuita e penetração nas máquinas eleitorais de estados.

A complicação petista continua sem emitir sinal de distensão. É compreensível que assim seja. Até por incluir, a par do seu teor político, um papel importante na batalha pelo livramento de Lula.

A propósito, a manifestação conjunta de seis ex-presidentes e ex-chefes de governo sobre “a prisão apressada de Lula”, com a solicitação, “solenemente”, “de que o presidente Lula possa se submeter livremente ao sufrágio do povo brasileiro”, traz ao assunto uma contribuição mais além do repetitivo e talvez ineficaz argumento de que “o candidato do PT é Lula”, e ponto final.

O ex-presidente François Hollande, os ex-chefes italianos Massimo D’Alema, Romano Prodi e Enrico Letta, o ex-chefe de governo belga Elio Rupo e o ex-presidente do governo espanhol José Luis Zapatero entendem que “a luta legítima e necessária contra a corrupção não pode justificar uma operação que questiona os princípios da democracia e direitos dos povos a eleger seus governantes”. Tema fértil, e suscitado com autoridade, para a discussão do caso Lula/eleições.

No território da opinião pública parece passar-se o mais interessante. Até agora, a “divisão dos votos de Lula”, preso há mais de um mês, não confirmou nenhum dos que expuseram previsões. A julgar pela sondagem CNT/MDA, ontem publicada, Lula mantém o seu apoio de um terço do eleitorado.

O que é extraordinário, se consideradas as circunstâncias. Bolsonaro e Marina continuam nos seus degraus, sem atrair novos olhares.

A novidade é provocada por Ciro Gomes, que passou a ser o mais comentado dos nomes. Como “eventual alternativa”, no dizer mais cauteloso.

Ou como “aparentemente o melhor do que está aí”. Penetração, esta, entre eleitores de classe média para cima, onde Ciro Gomes nunca foi motivo de sonhos bons.

Considerada a perspectiva que o eleitorado lhe indica, Michel Temer fez bem em negar sua retirada da disputa. Afinal de contas, tem apoio eleitoral de zero vírgula alguns ciscos. E quatro processos que o ameaçam de novas moradias já em janeiro.

Janio de Freitas
Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, analisa a política e a economia.

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