Almanaqueiras: ou não queiras.

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sábado, 28 de abril de 2018

a canção Mal necessário contribui para Jesuíta Barbosa dar voz ao oprimido na pele luminosa de Shakira do Sertão.

 Hit de Ney há 40 anos ajuda Jesuíta a dar voz à dualidade da 'drag' Shakira do Sertão

Hit de Ney há 40 anos ajuda Jesuíta a dar voz à dualidade da 'drag' Shakira do Sertão

Por Mauro Ferreira, G1



"Sou um homem, sou um bicho, sou uma mulher

Sou a mesa e as cadeiras deste cabaré

Sou o seu amor profundo, sou o seu lugar no mundo

Sou a febre que lhe queima, mas você não deixa

Sou a sua voz que grita mas você não aceita

O ouvido que lhe escuta quando as vozes se ocultam

Nos bares, nas camas, nos lares, na lama.

Sou o novo, sou o antigo, sou o que não tem tempo

O que sempre esteve vivo, mas nem sempre atento

O que nunca lhe fez falta, o que lhe atormenta e mata

Sou o certo, sou o errado, sou o que divide

O que não tem duas partes, na verdade existe

Oferece a outra face, mas não esquece o que lhe fazem"

Os versos da canção Mal necessário – composta por Mauro Kwitko e lançada há 40 anos na voz de Ney Matogrosso em gravação do álbum Feitiço (1978) – traduzem a dualidade existencial da personagem vivida pelo ator Jesuíta Barbosa em Onde nascem os fortes, atração da TV Globo no horário das 23h. Não por acaso, Mal necessário reverbera na supersérie na voz do próprio Jesuíta em gravação inédita feita pelo artista para a trilha sonora da trama.

Intérprete da drag queen Shakira do Sertão, atração da boate Bodão Night Clube, Jesuíta Barbosa (em foto de Estevam Avellar, da TV Globo) se reconecta com o universo LGBT anos após ter integrado o grupo cearense As Travestidas. Skakira – drag que dá voz a músicas como O amor e o poder (Jennifer Rush, Candy de Rouge, Gunther Mende e Mary Susan Applegate, 1984, em versão em português de Claudio Rabello, 1987) em show na boate situada na fictícia cidade de Sertão – é a oculta persona artística de Ramirinho, filho do juiz encarnado pelo ator Fábio Assunção.

A inclusão de Mal necessário na trilha sonora oportuna porque a música do compositor gaúcho Mauro Kwitko descortina marginalizado universo sexual na letra que versa sobre a ambiguidade da personagem retratada na primeira pessoa, mas sem nome, como sujeito oculto, papel reservado aos travestis, transexuais e drag queens na sociedade, ainda que a explosão de Pabllo Vittar e Liniker como popstars venha quebrando barreiras e pré-conceitos nos últimos anos.

Não por acaso, Mal necessário surgiu no universo pop na voz de Ney Matogrosso, cantor cuja figura intencionalmente andrógina e purpurinada brilhou como facho de luz, rasgando a escuridão dos sombrios anos 1970. No contexto sertanejo da trama de Onde nascem os fortes, Shakira do Sertão é a febre que queima, uma voz que grita no escuro das boates em busca da própria identidade, fazendo arder todo um jogo de poder armado pela força patriarcal de Sertão para subjugar os sexos supostamente frágeis.

Ainda atual 40 anos após o lançamento, a canção Mal necessário contribui para Jesuíta Barbosa dar voz ao oprimido na pele luminosa de Shakira do Sertão.

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