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quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

70 anos de vida da sempre jovial Joyce Moreno.

Joyce festeja 70 anos com obra jovial que delineou assinatura feminina na música

Joyce festeja 70 anos com obra jovial que delineou assinatura feminina na música

Por Mauro Ferreira, G1




Pela música, de tom jovial e com uma bossa que soa sempre nova, ninguém diz que Joyce Moreno faz hoje 70 anos. Mas o fato é que essa cantora, compositora, instrumentista carioca nasceu em 31 de janeiro de 1948 com o nome de Joyce Silveira Palhano de Jesus. Um grande nome da música do Brasil que tem o mérito de ter colaborado decisivamente para delinear e reforçar com nitidez a assinatura da mulher brasileira na arte da composição, historicamente iniciada sob o domínio masculino.

Joyce Moreno – em foto de Leo Aversa – era apenas Joyce quando lançou há 50 anos pela gravadora Philips o primeiro álbum, aliás intitulado tão somente Joyce. Neste ano de 2018, Joyce celebra os 70 anos de vida e, na música, promove volta àquele seminal ano de 1968, regravando o disco em que deu voz a uma parceria com Jards Macalé, Choro chorado, e – mais importante – apresentou cinco composições autorais criadas sem parceiros. Uma dessas cinco músicas, Me disseram, é especialmente emblemática. Porque era incomum na época uma mulher compor e cantar versos como "Já me disseram / Que meu homem não me ama / Me contaram que tem fama / De fazer mulher chorar".

Parece pouco, mas era muita (saudável) ousadia naquele ano de 1968 em que a mulher ainda lutava pelo direito de ser voz plenamente ativa na sociedade. Joyce sempre se mostra (e gosta de ser) mulher na obra autoral que começou a arquitetar naqueles anos 1960 e que ganharia relevo nacional a partir de 1979, ano em que Maria Bethânia deu voz à música Da cor brasileira, em cuja letra Joyce perfilava o macho nacional com doses equilibradas de erotismo e reflexão sobre o comportamento do homem nas relações afetivas.

Contudo, seria injusto e reducionista enquadrar a obra autoral da compositora de Feminina (1979) em moldura feminista. Como compositora ou cantora (de voz maturada com o passar dos anos), a artista exerceu a liberdade de compor e gravar o que lhe soasse melhor aos ouvidos acostumados à fineza do samba e à bossa de João Gilberto. No álbum Passarinho urbano (1976), por exemplo, Joyce se exercitou como intérprete em repertório que incluía músicas de, entre outros, Caetano Veloso, João Bosco e Sidney Miller (1945 – 1980).

A propósito: à obra deste compositor carioca, evidenciado na década de 1960 e depois esquecido, Joyce já dedicou show – feito com o violonista Alfredo Del-Penho em 2012 no Instituto Moreira Salles, na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ) – que vai gerar disco ao vivo neste ano de 2018, como parte das celebrações dos 70 anos da artista.

Raro exemplo de compositora que completa 50 anos de carreira com a mesma inspiração da aurora da vida, Joyce é cantora e violonista de musicalidade tão grande que o senso rítmico sempre se releva sagaz, nos estúdios ou nos palcos. Por conta dessa bossa, Joyce tinha a admiração de soberanos da música brasileira como Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994). Fosse um país que valorizasse mais os talentos dos artistas que legou ao mundo, o Brasil estaria hoje unido na celebração dos 70 anos de vida da sempre jovial Joyce Moreno.

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