Almanaqueiras: ou não queiras.

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segunda-feira, 3 de julho de 2017

Freire renunciou em maio passado, após o vazamento da gravação da conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista. Curiosamente, não havia exibido semelhantes pruridos ao nomear 18 correligionários para cargos no ministério.

A pinguela da cultura 

Editorial Folha 

Marcelo Calero, Roberto Freire e Marta Suplicy

A imagem da pinguela, usada pelo tucano Fernando Henrique Cardoso para se referir ao governo Michel Temer (PMDB), encontra hoje ilustração didática na agonia do Ministério da Cultura. A particularidade aqui é não se conseguir vislumbrar aonde tal ponte precária conduzirá.

A chefia da pasta pode passar em breve para o quarto nome desde a posse do presidente, há pouco mais de um ano. Antes disso, a instituição chegou a ser extinta —decisão revertida em questão de dias, diante da grita de artistas.

O primeiro a encabeçar a Cultura foi o diplomata Marcelo Calero, que demitiu-se após pressão do então ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) pela liberação de obra em área tombada.

Assumiu o deputado Roberto Freire (PPS-SP), cuja principal aparição no noticiário se deveu a estéril esgrima retórica com o escritor Raduan Nassar, defensor do PT.

Sua gestão tampouco venceu a barreira dos seis meses. Freire renunciou em maio passado, após o vazamento da gravação da conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista. Curiosamente, não havia exibido semelhantes pruridos ao nomear 18 correligionários para cargos no ministério.

Na sequência, o cineasta João Batista de Andrade, um dos empregados pelo antecessor, assumiu interinamente. Somava poucos dias no posto quanto anunciou seu desinteresse em ser efetivado.

O cargo agora deve voltar à cota do PMDB. A senadora Marta Suplicy (SP), que já ocupou a função, declinou da primeira sondagem.

Outros nomes aventados são o do deputado André Amaral Filho (PB), 26, cujas façanhas em prol da cultura incluem atuar para a instauração da Frente Parlamentar em Defesa da Vaquejada, e o da deputada Laura Carneiro (RJ), suplente de Eduardo Cunha.

A bem da verdade, as fundações dessa pinguela são frágeis de longa data. Em 32 anos, a Cultura conheceu 15 titulares (sem contar os interinos). Não há projeto de política continuada que resista a dança das cadeiras tão buliçosa.

Noves fora as trepidações da pasta, há uma agenda relevante a ser tocada, da qual a reformulação da Lei Rouanet (principal mecanismo de financiamento à produção artística no país) constitui página fundamental.

A matéria, em fase de audiência pública no Senado, patina há sete anos no Congresso. Em sinalização auspiciosa, o governo endureceu há pouco os dispositivos de controle do uso dos recursos obtidos via renúncia fiscal. Com ou sem ministério, há por onde avançar.

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