Almanaqueiras: ou não queiras.

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sexta-feira, 30 de junho de 2017

vixe como tem rodrigo. tem mais rodrigo que coco catolé.

Quem são e como agem os 4 ‘Rodrigos’ que detém poder sobre o futuro de Temer
Rocha Loures, Pacheco, Maia e Janot viraram protagonistas

O presidente Michel Temer Sérgio Lima/Poder360 


LUÍS COSTA PINTO - Poder 360




4 RODRIGOS E 1 CONDENADO

Rodrigo é nome próprio de origem germânica. Significa, a partir de suas variações, “famoso pela glória” ou “governante poderoso”. Na Idade Média, na Hispânia, no Reino de Castela, houve o rei Rodrigo Diaz de Vivar. Era conhecido por ser justo e equilibrado, além de grande estrategista e incansável guerreiro. Morreu em 1099, em seu castelo, tendo exércitos mouros cercando a Península Ibérica.

Temido pelos muçulmanos, venceu a última batalha já morto. Jimena Diaz, sua mulher, ordenou que empalassem o corpo do marido, assentou-lhe no cavalo, amarrou espada e lança em suas mãos e fê-lo cavalgar à frente dos cavaleiros hispânicos. As divisões mouriscas abriam alas para dom Rodrigo e eram massacradas pelos guerreiros de sua corte –nascia ali a lenda de El Cid.

Uma inacreditável coincidência da História brasileira faz com que 4 homens de prenome Rodrigo ocupem, em algum momento, a ribalta da cena política nacional:

Rocha Loures é o pobre de espírito (e rico em sordidez) que foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil do empresário Joesley Batista, depois deste ter acatado as instruções de Michel Temer para procura-lo, afinal ele seria “de toda confiança”. É o Rodrigo que, nesse enredo, pode ser apelidado de “ato de ofício ambulante”. Estrelou a imagem icônica da corrupção, repetida à exaustão pelas TVs e na web.

Janot é o Rodrigo candidato a protagonista central da trama. Há anos cabe a ele chancelar as ações da força-tarefa da Lava Jato, inicialmente sediada em Curitiba, mas agora disseminada em núcleos operacionais espalhados por diversas outras capitais estaduais. É de sua autoria a denúncia inédita, por corrupção, feita a alguém no exercício do mandato de presidente da República. Lançou a 1ª, virão outras.

Pacheco é o Rodrigo que preside a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Deputado, almeja o governo de Minas Gerais –ou uma cadeira de senador. Filiado ao PMDB, não é dado a desfrutes com colegas de vida fácil, aqueles para os quais decisões legislativas são qual mercadorias em gôndolas de supermercado. É um raro político contemporâneo que parece pensar antes de falar. Parece querer escrever uma biografia parlamentar, e não enveredar pelos caminhos dos prontuários. Dará trabalho à camarilha palaciana e não se deixará atropelar.

Maia é o Rodrigo que parecia ter entrado na história como coadjuvante, revela imenso talento para a conversa nas coxias, conquistou diferentes plateias e virou candidato a protagonista no meio do script. Tem força e competência para fazer os desígnios divinos reescreverem o fim dessa tragédia bem brasileira, mas precisa escolher o núcleo certo para desenvolver seu papel. Dono de trajetória singular, movimenta-se nas esquinas do Congresso com a habilidade de quem aos 47 anos descobriu precocemente onde as curvas sinuosas dão nos becos e onde levam à Esplanada. Nas últimas semanas tem dado sempre as setas certas, mantém-se distante de ruas sem saída.

Com a compleição dos vilões quase cômicos de filmes mexicanos, posto serem atrapalhados e carregarem no rosto um ar de tristeza constante, Rodrigo Rocha Loures não se converterá em herói nem se resolver delatar o destino final da mala preta recebida de Joesley Batista. Nasceu com todos os equipamentos dos bonachões. É gordinho, tem um rosto em formato de lua cheia, mas o destino não consumou esse desígnio: pôs o país em transe e sua própria turma em pânico. Michel Temer estará sempre condenado a ser refém de seu silêncio.

Voz de barítono –grave sem, contudo, atingir a afinação dos tenores– Rodrigo Janot cultiva os cabelos precocemente brancos. Isso o auxilia na composição da personagem que escolheu envergar: a de procurador implacável, reputação quadras acima dos investigados e respeitado entre os seus.

Ganhou alguns desafetos no curso dos últimos anos, mas a coleção deles vale muito pouco no balcão da bodega imaginária em que se converteu a Praça dos Três Poderes. No cotejamento de sua biografia com o prontuário de seu principal denunciado, Michel Temer, este último estará para sempre condenado a usar os grilhões dos vilões antológicos.

Sorriso plácido e raciocínio cartesiano dos mineiros de anedota, o deputado Rodrigo Pacheco, presidente da CCJ da Câmara, foi preterido pelos amigos de Michel Temer na indicação para o Ministério da Justiça quando se abriu a vaga deixada por Alexandre de Moraes. Convenceram Temer que o patético e breve Osmar Serraglio seria mais confiável. Empossado, Serraglio não demorou 2 semanas para virar investigado. Afundou na omissão e na depressão.

Trocado por Torquato Jardim, vingou-se e reassumiu o mandato parlamentar, revogando de Rocha Loures o foro especial e transformando-o em presidiário provisório para tensão do Palácio do Planalto. Senhor dos prazos e dos recursos na CCJ, onde a denúncia contra Temer começa a tramitar, por 2 ou 3 semanas seu “quase chefe” estará condenado a não o abespinhar sob o risco de ver mais próxima a forca cujo cadafalso ainda administra.

Raro carioca tímido, cultor de uma sinceridade cortante e às vezes desconcertante, admirador das almas leais, o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia caiu de paraquedas no teatro de operações de Brasília. Foi convocado pelos responsáveis do casting para ser coadjuvante numa administração em que os atores mais velhos se gabavam de enorme esperteza e ocupavam todos os camarins palacianos. Revelaram-se velhacos, e a maioria nem lá está mais.

O jovem Maia consolidou uma relação eficiente e pragmática com o experiente vizinho, Eunício Oliveira. Juntos começaram a enviar sinais à Esplanada dos Ministérios, à Avenida Paulista e analistas de risco que o Brasil anda apesar da transformação do Palácio do Planalto em zona de conflito cenográfica. A timidez de Maia o empurrou para o centro da boca de cena. O roteirista desse nosso drama real adverte Michel Temer a toda hora: ou está condenado a ser um eterno devedor do presidente da Câmara, ou se verá prisioneiro de suas péssimas agendas (sobretudo daquelas que não eram públicas, as extraoficiais).

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