Almanaqueiras: ou não queiras.

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quarta-feira, 1 de março de 2017

Se fatos políticos derem gás às manifestações marcadas para 26 de março, isso poderá criar dificuldades para a governabilidade de Temer.

Passos de Janot e futuros protestos preocupam governo
Presidente tem desafio de evitar que agenda de reformas perca força


KENNEDY ALENCAR



Os efeitos políticos do depoimento de José Yunes à Procuradoria Geral da República geram desconfiança sobre a capacidade do governo de aprovar as reformas no Congresso. Amigo e ex-assessor especial da Presidência, Yunes disse que recebeu em seu escritório em 2014 o doleiro Lúcio Funaro a pedido do hoje ministro licenciado da Casa Civil, Eliseu Padilha. Funaro teria deixado no escritório um envelope no qual haveria propina da Odebrecht para peemedebistas.

O primeiro e principal desafio do presidente Michel Temer é manter o plano de aprovar as reformas da Previdência e trabalhista na Câmara no prazo de 120 dias. Ou seja, votá-las até o fim de junho.

Se obtiver êxito na Câmara, Temer avalia que o caminho estará pavimentado no Senado e que os agentes econômicos receberão um sinal importante para guiar as suas expectativas. Em resumo, Temer terá nos próximos dias e semanas o desafio de não deixar a peteca cair.

A ausência de Padilha, temporária ou definitiva (a depender dos desdobramentos da crise gerada pelo depoimento de Yunes), dificulta um pouco a negociação das reformas, mas não inviabiliza a articulação.

Padilha já vinha perdendo poder no governo por falar demais e produzir notícias negativas. Ele ocupa uma pasta muito importante, mas a articulação política do governo Temer sempre contou com forte participação do presidente. Temer se envolveu diretamente nas articulações para aprovar a PEC do Teto na Câmara e no Senado, por exemplo.

O presidente terá de agir do mesmo jeito agora. O PSDB assumiu a pasta da articulação política, a Secretaria de Governo. Isso compromete mais os tucanos com o governo.

Temer sabe que não terá vida fácil no Congresso, porque cresceram as resistências à reforma da Previdência. Mas as concessões que o governo está disposto a fazer em relação à proposta original de reforma da Previdência já estão sendo debatidas nos bastidores.

O maior risco para o governo e a sua base de apoio no Congresso reside nas medidas que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, adotará em relação às delações da Odebrecht. Há expectativa de quebra de sigilo das delações da Odebrecht e de pedidos de abertura de inquérito e até de eventuais denúncias com base nessas colaborações.

A depender das figuras políticas do governo, do PMDB e do PSDB que forem atingidas, haverá dano considerável à administração Temer e ao Congresso.

Também existe preocupação no governo com as manifestações convocadas para 26 de março, um domingo. No Carnaval, ocorreram protestos contra o governo, sobretudo com o coro de “Fora, Temer” em blocos de rua. Se fatos políticos derem gás às manifestações marcadas para 26 de março, isso poderá criar dificuldades para a governabilidade de Temer.

No entanto, o presidente não tem alternativa. Temer avalia que precisa abraçar a sua base de apoio no Congresso para tentar atravessar a tempestade. Essa base de apoio tampouco teria opção melhor: aprovar as reformas da Previdência e trabalhista propostas por Temer seria uma forma de enfrentar danos da Lava Jato, entregando um conjunto de medidas que a elite econômica defende como necessário ao país.

Em resumo, Temer e sua base de apoio buscariam alguma blindagem política por meio da economia.


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